Biografia - Prof. Roldão de Siqueira Fontes
Em homenagem ao antigo mestre do então Aprendizado Agrícola que originou o CODAI, a direção do Colégio escolheu para Patrono da biblioteca o Professor Roldão de Siqueira Fontes, em virtude do vínculo profissional com a história institucional e sua dedicação à pesquisa e divulgação do pau-brasil (Caesalpina echinata lam.), em âmbito local e nacional.
O Professor Roldão de Siqueira Fontes nasceu na Fazenda Cajá, no município de Flores, sertão do Pajeú, Pernambuco, no dia 29 de dezembro de 1909. Foi nomeado Professor de História e Geografia do Aprendizado Agrícola de São Bento, localizado no Engenho São Bento, em Tapacurá, Pernambuco, em 1943. Testemunhou as mudanças ocorridas ao longo do tempo naquela Instituição de Ensino, desde a época em que se denominava Aprendizado Agrícola até sua transformação no Colégio Agrícola de São Lourenço da Mata, posteriormente, Colégio Agrícola Dom Agostinho Ikas, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), destinado à educação técnica e de nível médio, subordinado à UFRPE, enquanto órgão suplementar.
Durante o tempo em que residiu na região, passou a observar o bosque que havia na frente do colégio, com cerca de 500 mudas de pau-brasil, planta da Família das Leguminosas, denominada pelos botânicos como Caesalpina echinata lam. Pesquisou e, em suas leituras, descobriu que aquela espécie estava em risco da extinção. Depois de encontrar, por acaso, um livro sobre o pau-brasil em um sebo, em 1969, resolveu criar mudas da árvore, com o dinheiro do seu próprio bolso, para reverter a situação de quase extinção. Ele distribuía as mudas aos pais de seus alunos que visitavam a escola.
A partir daquele período, o professor começou a sua peregrinação, na tentativa de restaurar aquela espécie, a qual, durante tantos anos, havia sido destruída. Em 1972, obteve o apoio da reitoria da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), no sentido de dar mais visibilidade à sua campanha de restauração do pau-brasil. A partir de então, sua iniciativa individual transformou-se numa campanha nacional. Dirigiu-se até Brasília, para conseguir apoio dos governantes do país. Durante todo o percurso, de caminhão cedido pela universidade, seguiu de Pernambuco a Brasília, distribuindo cerca de 10 mil mudas por onde passava.
Porém, a notícia de que o Governo Federal iria construir a barragem de Tapacurá, próximo ao local onde estavam instalados o Colégio Agrícola e o bosque do pau-brasil, o que destruiria as instalações do Colégio e, sobretudo, aqueles poucos exemplares que haviam restado da ferrenha exploração ao longo do tempo, trouxe desolação ao professor. Inconformado, lançou uma nova campanha, dessa feita, para salvar o bosque, e logo contou com a colaboração da imprensa.
Diante de tal situação, o ecólogo e professor João de Vasconcelos Sobrinho, visando à preservação da árvore, sugeriu a Mata do Toró, que era propriedade da referida escola, como local propício para a reprodução da espécie, que se encontrava ameaçada de extinção. Foram plantadas cerca de 12.500 mudas de pau-brasil, próximas à bacia hidráulica da barragem de Tapacurá. O projeto contou com o auxílio financeiro do DNOS, Departamento Nacional de Obras de Saneamento, que custeou o replantio e a manutenção.
Como resultado, houve repercussão negativa para os construtores da barragem. Para minimizar os transtornos, a construtora decidiu plantar novas mudas em volta da barragem. Criou o bosque, com 50.000 árvores de pau-brasil, às margens da área inundada na Barragem de Tapacurá, onde funcionou, anteriormente, a Escola Superior de Agricultura de São Bento, que deu origem à UFRPE.
O Professor Roldão de Siqueira Fontes liderou ininterrupta peregrinação, mantendo contatos com políticos de todos os partidos. Depois de alguns anos de luta, conseguiu que o pau-brasil passasse a ser protegido pela Lei 6.607, de 07 de dezembro de 1978, que instituiu o pau-brasil como a "árvore nacional", e o dia 03 de maio como o "Dia Nacional do Pau-Brasil". Foi o grande responsável pela campanha nacional para preservação, divulgação e plantio dessa árvore nativa, e símbolo nacional nas escolas e praças de Pernambuco e do Brasil.
Manteve sua luta, contatando também professores, ruralistas, estudantes, imprensa, órgãos públicos e, especialmente, a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), no sentido de levar adiante seu ideário, encontrando apoio em todos os segmentos. Ao longo dos anos, também recebeu apoio das várias diretorias do Colégio Agrícola, berço onde nasceu a Campanha Nacional do Pau-brasil, local onde o dedicado professor atuava de maneira permanente e atuante. Suas ações o levaram a ser homenageado com o título de “O Apóstolo do Pau-Brasil”. Foi chamado por Frederico Pernambucano de Melo de “O Apóstolo do Verde”, e pelo mestre Ariano Suassuna como “O Cavaleiro da Branca Lua”.
Em virtude da bela e exemplar história de vida desse baluarte da secular UFRPE e, especialmente, pelo vínculo profissional e dedicação à história institucional, a direção do CODAI o escolheu para Patrono da sua biblioteca, numa justa homenagem àquele que dedicou 40 anos de sua vida ao ideário da preservação e divulgação do pau-brasil, e fez da preservação o seu objetivo principal, desenvolvendo ações de produção, difusão, educação e articulação em defesa dessa árvore, que deu nome ao nosso país.
Aposentou-se em 1983, como Professor de História e Geografia. Por meio de palestras e repasse de mudas, seu trabalho em defesa do pau-brasil continuou, até que, em 1988, deu vida à Fundação Nacional do Pau-Brasil (Funbrasil), instituição privada criada por ele, que tem como um dos objetivos produzir e plantar mudas de pau-brasil em todo o território nacional. Seus ideais perpetuam-se, através das 2.700.000 árvores que deixou plantadas em todo o país e nas ações da Funbrasil. Atualmente, sua luta continua através da filha, Ana Cristina Roldão, que preside a Funbrasil, com igual dedicação, zelo e amor.
Faleceu no Recife, em 05 de novembro de 1996, às vésperas de completar 87 anos.